EXTRATO DO CAROÇO DO AÇAÍ COMO POTENCIAL MODULADOR DA FERMENTAÇÃO RUMINAL
Extrato de plantas. Sustentabilidade. Resíduo industrial. Ruminantes. Compostos fenólicos.
Alguns extratos de plantas têm sido considerados promissores como aditivos para modular a fermentação ruminal de forma positiva. As pesquisas quanto a ação dos seus compostos bioativos foram impulsionadas pela decisão da União Europeia que proibiu o uso rotineiro de antibióticos na alimentação animal, dentre quais os antibióticos ionóforos que são os mais difundidos no mercado estão inclusos. O caroço do açaí é um resíduo gerado após o processamento do fruto para extração da polpa, seu desperdício corresponde a cerca de 60 a 85% do fruto e sua utilização comercial ainda é limitada, resultando em um acúmulo exorbitante desse resíduo. Afim de reduzir o lixo gerado pelo processamento da polpa do açaí, novas aplicações ao seu caroço são almejadas. Para tal, estudos demonstram que o caroço contém uma quantidade considerável de compostos bioativos, como polifenóis, que apresentam propriedades antioxidantes, antimicrobianas e anti-inflamatórias, apresentando potencial para a aplicabilidade na produção animal. O extrato do caroço do açaí (ECA) possui maior concentração de polifenóis que o fruto e a casca, apresentando maior capacidade antioxidante que a própria polpa. Estes resultados evidenciam que a parte com maior teor de compostos bioativos está sendo desprezado e descartado pela indústria.Visto isso objetivou-se avaliar os efeitos do extrato do caroço de açaí sobre a digestibilidade in vitro e parâmetros de fermentação ruminalin vitro em diferentes condições dietéticas. Foram conduzidos três experimentos utilizando diferentes relações de volumoso:concentrado (v:c)(90:10; 50:50 e 20:80).Para cada experimento, foram avaliadas quatro doses do ECA, sendo: 0, 0,3, 3 e 30 mg de ECA/g de substrato. Em cada experimento foram incubados, por 6, 12 e 24 horas, 144 frascos em estufa a 39°C.Foram realizadas análises para determinar a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS), aconcentração de ácidos graxos voláteis (AGV) e nitrogênio amoniacalruminal (N-NH3). Para o substrato v:c - 90:10, no tempo de incubação 12 e 24 horas, a inclusão do ECA na dosagem de 0,3 mg/g apresentou menor DIVMS (p<0,05) quando comparado ao tratamento controle. Para o substrato v:c - 50:50, no tempo de incubação 12 horas, as maiores dosagens (3 e 30 mg/g) apresentaram maior DIVMS, comparando-se ao tratamento sem ECA e à dose 0,3 mg/g de ECA. Para o substrato v:c - 20:80, nos tempos de incubação 12 e 24 horas as dosagens 3 e 30 mg/g apresentaram maiores DIVMS.Quanto à concentração de N-NH3, para o substrato v:c - 50:50 em 12 horas de incubação, as dosagens de 3 e 30 mg/g apresentaram menores concentrações de N-NH3.Para o substrato v:c - 20:80 a inclusão do ECA não apresentou diferenças sobre N-NH3. A inclusão do ECA apresenta efeitos negativos sobre a DIVMS quando a dieta simulada apresenta alto teor de fibra como evidenciado na relação v:c 90:10.Ao contrário, com alto teor de concentrado (v:c 20:80) a inclusão de 3 e 30 mg de ECA/g de substrato melhora a DIVMS, indicando que seus efeitos podem ser positivos em dietas com alto teor de concentrado.