SEGURANÇA, SAÚDE E ADOECIMENTO DO TRABALHO DA PESCA ARTESANAL PARAENSE
pescador artesanal, condição de vida, agravo a saúde, trabalhador
O trabalho é fator determinante da convivência social, pois permite diversas formas de socialidades que definem, entre outros, os grupos, os usos, os costumes e as consciências. Compreendê-lo é essencialmente entender as formas como se organizam determinados grupos e que interesses os impende à produção. A contemporaneidade a cada dia aporta desafios à sobrevivência e, sobretudo à qualidade de vida, atrelados ao fundamento e utilidade do trabalho, induzindo-nos a atentar para a necessária conjugação de dois bens e direitos de afirmação: o ambiente e o processo saúde-doença. Estes bens determinam não só a vivência no meio natural, como também a própria estruturação do trabalho, já que oferecem os contornos e as possibilidades de execução da função laboral. O ambiente imprime as formas e técnicas de pesca, influenciando nas múltiplas adaptações do trabalho. A saúde-doença, por sua monta, denota a potencialidade e a efetividade do exercício do trabalho, já que pode manter ou afastar o trabalhador do seu meio de produção. No caso dos pescadores artesanais, o dano à saúde gera consequências que afetam não apenas a produção pesqueira local, mas também a própria sobrevivência desses trabalhadores, já que interfere no sistema de produção material de suas vidas. O Estado do Pará é líder nacional na produção pesqueira artesanal, e no seu bojo uma gama de trabalhadores vive da pesca, enfrentando diversas intempéries e ficando sujeita aos mais variados riscos de acidentes e doenças, situações que tornam a estudo ora deslindado necessário e oportuno. O objetivo é conhecer as condições de vida, trabalho e saúde dos pescadores artesanais paraenses, utilizando-se de instrumentos de coleta de dados que permitem obter informações, percepções, conhecimentos e experiências sobre questões atinentes à sua vida e seu trabalho. Acidentes e doenças que sequer alcançaram e alcançam as estatísticas oficiais, baixo nível de instrução dos pescadores, alto tempo de serviço na pesca, elevados deslocamentos aos locais de captura, cumulação de atividades, condições de acondicionamento do pescado, lesões por esforços repetitivos, ferradas de animais peçonhentos, problemas na visão e na coluna vertebral, entre outros, são os principais resultados deste estudo. Soma-se a isso a naturalização do adoecimento, situação na qual o pescador antepõe sua sobrevivência e relega os cuidados com sua saúde, extremando o risco do desenvolvimento de fatores mórbidos e de mortalidade que, atrelados à situação socioeconômica em que estão inseridos, culminam na falta de acesso as políticas públicas que lhe são asseguradas.