MORFOLOGIA DA LÍNGUA DE Vanellus chilensis VISANDO CORRELAÇÃO COM DIETA ALIMENTAR
Quero-quero, anatomia; papilas linguais; nutrição.
O quero-quero (Vanellus chilensis), ave de porte médio típica da América do Sul, habita áreas próximas a corpos d’água e campos abertos, e recentemente se adaptou a ambientes urbanos e áreas desmatadas na Amazônia. Sua dieta onívora inclui invertebrados, pequenos vertebrados e vegetação. A estrutura da língua das aves em geral, reflete seu papel crucial na manipulação e ingestão de alimentos, sendo dividida em ápice, corpo com crista papilar e raiz. No entanto, a morfologia da língua dessa espécie ainda apresentam lacunas a serem preenchidas, as quais objetivamos estudar. Macroscopicamente, a língua do quero-quero apresentou um sulco mediano visível no ápice e papilas cônicas na crista papilar, voltadas para a cauda, com maior espessura nas laterais. Na região da raiz, próxima à glote, também foram observadas papilas cônicas voltadas caudalmente, além de um revestimento epitelial pavimentoso estratificado, com presença de queratina em algumas áreas, reforçando a proteção e funcionalidade da língua. O corpo e a raiz da língua continham glândulas salivares mucosas, importantes para a lubrificação, além de três ossos compactos com canal medular evidente. Microscopicamente, o epitélio da língua exibiu queratinização variável. No ápice, havia uma camada mais estratificada no sulco mediano, enquanto as laterais apresentavam depósito expressivo de queratina. A presença de tecido conjuntivo e hialino, bem como a vascularização, indicam uma adaptação para sustentar as funções da língua. No corpo, as glândulas salivares túbulo-acinosas produzem mucopolissacarídeos, sendo evidentes no teste de coloração Alcian Blue. A glote, localizada caudal à língua, era revestida por epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado, com ossos e cartilagem hialina em formato de “U”, além de músculos esqueléticos distribuídos ao longo de sua estrutura. A presença de papilas cônicas tanto na língua quanto na glote é uma adaptação para facilitar a alimentação, e a variedade de estruturas e queratinização em áreas específicas, reforça a proteção contra o desgaste. Ao contrário do descrito na literatura prévia, foram identificadas presença de botões gustativos envolvidos por células epiteliais de descamação na base das papilas. Comparando-se com outras aves, o quero-quero apresenta características anatômicas e histológicas específicas que refletem sua dieta e adaptação ambiental. Papilas cônicas, glândulas salivares mucosas e cartilagem hialina são adaptações comuns entre aves com dieta onívora, promovendo tanto a alimentação eficiente quanto a proteção estrutural.