A HERPETOFAUNA DE COLARES, PARÁ, AMAZÔNIA ORIENTAL - Identificação de Taxa, Etnozoologia e Perfil Clínico-epidemiológico de Acidentes Ofídicos
Répteis, Anfíbios, Animais Silvestres, Caça, Uso da Fauna
A herpetologia, ramo da zoologia responsável pelo estudo da herpetofauna, é o ramo genérico que engloba a investigação dos anfíbios e répteis. A etnoherpetologia é uma subdivisão da etnozoologia que examina as relações entre as culturas humanas e a herpetofauna. Baseado na premissa de que juntos os estudos etnoecológicos e herpetofaunísticos ampliam a compreensão da população de répteis e anfíbios, sua conservação e seu papel na vida das populações (humanas) do trópico úmido, este estudo conduzido no município de Colares-Pará e teve como objetivos: 1) realizar um levantamento qualitativo rápido das espécies de répteis e anfíbios anuros, 2) identificar e caracterizar a percepção e atitudes etnoecológicas de caçadores sobre a biologia e ecologia da herpetofauna local, 3) sobre a caça e o uso da fauna, inclusive as ameaças e estratégias de conservação da fauna e do habitat; 4) oferecer elementos para a construção de uma metodologia para estudos etnoherpetológicos; 5) descrever o perfil clínico-epidemiológico dos acidentes ofídicos notificados de 2007 a 2011; 6) prover informações etnozoológicas que possam subsidiar estratégias de conservação e educação ambiental voltadas ao município de Colares; e 7) identificar interações entre os estudos realizados relacionando taxa, conhecimento etnoherpetológico, caça e uso da fauna e acidentes ofídicos. O estudo iniciado em julho de 2012 encontra-se em fase final de coleta e análise de dados e compreende coleta de espécimes da herpetofauna local a partir de técnicas amplamente difundidas para estudos de levantamento de campo (busca ativa limitada por tempo, armadilhas de interceptação e queda tipo Pit Fall, coleta por terceiros e coletas ocasionais), entrevistas e aplicação de questionários semi-estruturados a caçadores locais, selecionados segundo metodologia inovadora que toma em consideração o perfil da autoridade e legitimação, além da coleta de informações sobre acidentes ofídicos ocorridos no município e registrados em fichas de notificação do Sistema Nacional de Notificação e Agravos de Janeiro de 2007 a dezembro de 2011. Como resultados preliminares foram coletados 298 espécimes da herpetofauna, sendo 270 espécimes de anuros, 22 espécimes de lagartos e seis espécimes de ofídios. Do total foram identificadas quatro espécies de anuros, quatro espécies de lagartos e seis espécies de ofídios. De 21/50 caçadores já entrevistados, houve indicação de jabutis (Chelonoidis sp) como uso alimentar, de uso terapêutico da “banha” ou gordura de jibóia (Boa constrictor) e, como amuleto, do dente de jacaré (Caiman sp). Houve um consenso de que os crocodilianos são os animais da herpetofauna mais ameaçados de extinção na ilha. Foram notificados 94 casos de acidentes ofídicos, dos quais 69 (73%) ocorreram em homens e 25 (27%) em mulheres, sendo a maioria estudantes (n=19, 20%), com mais da metade dos acidentes ocorridos durante a realização de trabalho (n=52, 55%). A maioria dos casos ocorreu na zona rural (n=80, 85%) com a maior frequência na comunidade de Fazenda (n=10, 10%). Em relação à região anatômica acometida o pé (n=48, 51%) foi a área mais afetada. Houve uma predominância de acidentes provocados por serpentes do gênero Bothrops (60% dos casos) seguidos pelo gênero Lachesis (25% dos casos). Duas ocorrências não tiveram o gênero de serpente identificado e em onze fichas essa informação foi ignorada. Em 83 fichas (88%), informações quanto à evolução do caso das vítimas foram preenchidas, sendo que destas a maioria evoluiu para cura (n=78, 88%) e cinco apresentavam esse parâmetro ignorado, demonstrando displicência quanto ao desfecho do acompanhamento clínico dos pacientes. O trabalho encontra-se em andamento, com previsão de defesa em fevereiro de 2014.