ACEITAÇÃO ALIMENTAR DE FRUTAS POR MUÇUÃ (Kinosternon scorpioides, Linnaeus, 1766) EM CATIVEIRO
ANIMAIS SILVESTRES; QUELONICULTURA; FAUNA.
Historicamente, muitas espécies de quelônios em diversas partes do mundo apresentam grande importância alimentar, econômica e cultural, tendo seus ovos, carne, vísceras, gordura e casco sido utilizados intensamente pelo homem. Sendo assim, estudos na área de produção e nutrição de quelônios para o estabelecimento de criadouros científicos para fins estritamente conservacionistas ou aliados a possibilidades de uso sustentável, são de grande importância para os avanços no conhecimento das espécies amazônicas em suas características morfofisiológicas e comportamentais. A aceitação de alimentos e nutrição dessas espécies tem merecido maior atenção das pesquisas, a partir do investimento científico e tecnológico em outros monogástricos, como peixes, por exemplo. Visando conhecer a preferência e exigências alimentares de espécies com potencial zootécnico, como o muçuã (Kinosternon scorpioides), para que desse modo haja uma menor dependência de rações comercialmente disponíveis, onerosas e, em geral, pouco adequadas às espécies ainda em estudos para validação de sistemas zootécnicos, além das possibilidades do uso de alimentos alternativos regionais, que possam substituir os ingredientes tradicionais, utilizados por indústrias de outras regiões. Dessa maneira, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a preferência alimentar de diferentes frutas nativa e introduzidas da região amazônica em dois grupos (engorda e cria) de Kinosternon scorpioides (muçuã) em cativeiro, bem como a descrição do comportamento alimentar dos mesmos em relação aos itens ofertados. Foram utilizados 36 muçuãs, 18 na fase de engorda (400g – 500g) e 18 em fase de cria (50g – 100g), com peso inicial médio de 438g (±16,22g) e 84g (±16,11g), respectivamente, todos pertencentes ao Criadouro Científico do Projeto Bio-Fauna, do Instituto Socioambiental e dos Recursos Hídricos (ISARH), da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Belém, Pará, e sob autorização da Comissão de Ética no Uso de Animais (UFRA) Nº 23084.001637/2017-92. Os mesmos foram alojados em caixas de polietileno de 56,5 cm X 39,0 cm X 19,0 cm com 60% da área alagada e 40% de área seca, com 3 animais por caixa. Para avaliação da preferência alimentar foram utilizados polpas de frutas in natura classificados em nativos e introduzidos da região amazônica: cupuaçu (Theobroma grandiflorum), pupunha (Bactris gasipaes Kunth), taperebá (Spondias mombin L.), bacuri (Platonia insignis Mart.), uxi (Endopleura uchi), tucumã (Astrocaryum aculeatum) e ingá (Inga edulis); acerola (Malpighia emarginata), goiaba (Psidium guajava), carambola (Averrhoa carambola), tomate (Solanum lycopersicum), manga (Mangifera indica L), melão (Cucumis melo L.), graviola (Annona muricata) e jambo (Syzygium jambos). Cada fruta testada foi oferecida em unidade de alimento/animal, colocada diretamente na água no centro dos lotes, durante o tempo de 50 minutos. Foram contadas as unidades fornecidas e as que restavam ao final de cada período de observação, obtendo-se, com isso, o total de unidades consumidas. O número de unidades fornecidas foi o mesmo para cada grupo, como também para cada item. Os testes foram realizados 2 vezes por semana (quartas e sextas-feiras) e todas as análises foram realizadas utilizando-se o programa Minitab. Foi observado que os animais do grupo cria foram os que consumiram uma porcentagem maior de frutas regionais (61%), quando comparados com o grupo engorda (55%). Houve diferença no número de animais que consumiram a fruta pupunha, onde a cria se destaca com um maior número de animais (72,2%) que consumiram esta fruta. Em relação ao bacuri, esta foi a que apresentou um menor número de animais que a consumira (5,56% e 0%, engorda e cria, respectivamente). Dentre as frutas ofertadas, foi possível observar um maior consumo de pupunha, melão e uxi, por ambos os grupos sendo, dois destes, frutas nativas. As frutas regionais amazônicas tiveram grande aceitação pelos animais onde a pupunha (94,4% e 83,3% para a engorda e cria, respectivamente) teve maior destaque. O segundo item de maior aceitação foi o melão, com 61,11% (engorda) e 50% (cria). O menor nível de aceitação foi constatado para o bacuri, onde houve 1,39 % e 0%, respectivamente. Pôde-se concluir que os itens alimentares testados foram aceitos por ambos os grupos, com destaque para a pupunha (item alimentar mais consumido) e com exceção do bacuri (0% para cria), acerola (0% para cria) e tomate (0% para engorda), entretanto a aceitabilidade mesmos que parcial de das frutas por um dos grupos e a ausência de mortalidade dos animais indicam a possibilidade destas frutas na formulação de rações para a espécie.