COMPORTAMENTO DE ANIMAIS FOCAIS EM CURRAL DE ESPERA DE ABATEDOURO-FRIGORÍFICO COMO INDICADOR DE BEM-ESTAR ANIMAL E SEU EFEITO NA QUALIDADE DA CARCAÇA E DA CARNE DE BOVINOS
Comportamento animal. Animal focal. Animal Production. Bovinos. Búfalos
Este estudo está dividido em quatro capítulos, sendo o segundo, terceiro e quarto redigidos em formato de artigos científicos. O capítulo I apresenta uma revisão de literatura sobre a temática comportamento e bem estar animal. O capítulo II aborda uma proposta de uso da técnica de registro animal focal na avaliação do bem-estar de búfalos. Este estudo foi realizado em um piquete experimental em uma propriedade rural, no município de Santarém, Pará, Brasil. Para avaliar os comportamentos dos animais, utilizou-se a técnica animal focal. Os animais foram filmados no periodo diurno, utilizando-se câmera de vídeo e no periodo noturno e madrugada realizou-se os registros “in loco” devido a dificuldade de filmagem. Ao todo os animais foram observados por 72 horas, consecutivas. Com base na literatura foram pré-definidas as variáveis a serem analisadas divididas em tipo estado: deitado, em pé, ruminação, pastejo e ócio e instantâneo: balançar da cauda, coçar e lamber. Verificou-se também as variáveis climáticas, temperatura média do ar e umidade relativa do ar. Foram medidos o Índice de temperatura e umidade (ITU) e o índice de conforto térmico (IC). Foi utilizada a técnica multivariada de componentes principais para agrupar os comportamentos e identificar quais atividades os animais mais desempenham nesses períodos, também foram avaliados os comportamentos instantâneos, e as análises foram realizadas no software R-Studio. Como resultados, notou-se que o ITU e o IC apresentaram-se fora da zona de conforto térmico. O pastejo foi mais evidente nas horas mais frias do dia, principalmente durante o período noturno e madrugada. A ruminação ocorreu em diferentes períodos, destacando-se o período diurno, sendo mais frequente com o animal na posição deitada. Comportamentos como coçar, balançar a cauda e lamber diferiram entre si (p<0,05), e, são parâmetros que também podem ser levados em consideração para mapear o grau de bem-estar dos indivíduos dessa espécie. Portanto, as avaliações realizadas dentro dos parâmetros adaptados para bubalinos refletem adequadamente o repertório comportamental para o etograma, no ambiente a campo. O terceiro capítulo foi desenvolvido a partir dos dados obtidos durante o projeto, e objetivou identificar por meio de correlações se a frequência respiratória (FR) e tempo médio de descida (TMD) podem ser utilizados como instrumentos capazes de avaliar o nível de estresse do animal. O experimento foi realizado em um abatedouro-frigorífico, sob Serviço de Inspeção Federal, no município de Castanhal, Estado do Pará. Foram utilizados oito lotes de bovinos zebuínos, não castrados, com idade de aproximadamente quatro anos, pesando em média 500±28 Kg-1 provenientes de diferentes propriedades e municípios. Foram avaliados apenas animais transportados por via terrestre. Divididos em dois tratamentos (distância percorrida entre origem e o destino dos animais) de curtas (<291 km) e longas distâncias (>291 km). Além disso, realizou-se também a correlação direta compilando as distâncias sem adotar os tratamentos. Como parâmetros de mensuração para a realização das correlações utilizou-se a FR inicial e final e o pH inicial e final, bem como o TMD e distâncias. Como resultados, constatou-se que houve correlação positiva (p<0,05) do pH inicial e final com a FR final para o transporte de longa distância. Houve também diferenças (p<0,01) entre FR inicial e final e para o pH inicial e final. Ao avaliar as distâncias em conjunto (Tratamento I e II), evidenciou-se correlação positiva (p>0,05) entre o pH final e o inicial. Identifica-se também que houve correlação negativa (p<0,01) entre o TMD e o pH inicial (<0,05) e entre a TMD e o pH final (<0,05). Além disto, houve correlação positiva entre o pH inicial e final para o tratamento II. Ao correlacionar a distância em função do TMD com o pH inicial e final, identificou-se correlação positiva entre o TMD e a distância (p<0,01). E para o pH final observou-se uma correlação negativa em função da distância (p<0,01). Por fim, foi possível constatar que a FR se mostrou como uma variável resposta capaz de indicar o nível de estresse do animal com referência a variação do pH, uma vez que esta apresentou correlação direta com o pH inicial e final. Além disso, o TMD também se apresentou como uma resposta em relação ao nível de estresse de bovinos. O quarto capítulo ainda estar em construção, e, objetiva avaliar a comportamento de animais focais em curral de espera de abatedouro-frigorífico como indicador de bem-estar animal e seu efeito na qualidade da carcaça e da carne de bovinos. Este estudo foi desenvolvido no curral de espera de um abatedouro-frigorífico, sob Serviço de Inspeção Federal (SIF), localizado no município de Castanhal, Estado do Pará. Foram estudados oito lotes de bovinos zebuínos, machos, não castrados, com idade de aproximadamente quatro anos, pesando em média 500±28,5 Kg-1, provenientes de diferentes propriedades e municípios. Os lotes foram divididos em distâncias, sendo considerados duas categorias diferentes: distâncias curtas (<500 km) e longas (>501km). A condução dos animais ocorreu por meio de caminhão de um piso, exclusivamente, por via terrestre. Foram utilizados cinco animais focais em cada replicação, escolhidos por meio de sorteio, que foram identificados visualmente, tornando factível a observação dos animais por meio das filmagens. Para observação dos indivíduos foi utilizado o método animal-focal com registro instantâneo, onde a cada cinco minutos por animal/hora, o animal foi observado, sendo então registrados os comportamentos dos bovinos. Ao todo foram avaliados cinco animais focais por hora, totalizando 25 minutos de observação. Foram utilizadas duas câmeras de vídeo distribuídas dentro do curral de espera. Os comportamentos foram registrados continuamente. Foi utilizado o vídeo digital com gravador High Definition (HD) (Seagate 500 GB) com a finalidade de armazenar as imagens. Os dados do vídeo foram então analisados usando uma gravação de cada animal no Software de comportamento Cowlog 3.0.2. Os vídeos foram avaliados por dois observadores treinados. A avaliação da carcaça foi realizada após o abate dos bovinos, sendo avaliadas 15 carcaças pertencentes a cada lote, levando-se em consideração o número, localização, coloração e tamanho de hematomas. Após a coleta, os dados foram avaliados estatisticamente. Constatou-se que houve diferença (p<0,05) entre as distâncias curtas e longa, bem como no tempo de execução de forma isolada e associado a distância. Houve diferença (p<0,05) no comportamento cabeçada nas primeiras horas dos bovinos no curral de espera do abatedouro-frigorifico, ou seja, no quarto 1 e 2, sendo este comportamento mais evidente em animais que percorreram distâncias mais curtas até o estabelecimento. Comparando os quartos na distância curta, notou-se que os quartos 1 e 2 não foram diferentes entre si, bem como entre os quartos 3 e 4 (p>0,05). Para o comportamento monta não foram identificadas diferenças entre as distâncias avaliadas (p>0,05). Entretanto, contatou-se diferenças entre os tratamentos para o tempo de espera, bem como para o mesmo associado a distância (p<0,05). Houve diferença (p<0,05) entre as distâncias curta e longa para os quartos 2 e 3, sendo a monta mais realizada por bovinos transportados por distâncias curtas. Houve diferenças entre os tratamentos para tempo de espera de forma isolada e a associação deste com a distância percorrida (p<0,05). Notou-se diferença (p<0,05) no comportamento empurrar entre os tratamentos estudados, sendo este evidente apenas no quarto 1, ou seja, nas primeiras horas no curral de espera. O PH inicial e final diferiu entre si para os bovinos transportados tanto por curta ou longa distâncias (p<0,05). No entanto, não se constatou diferenças entre a FR inicial ou final para os tratamentos estudados (p>0,05). Por fim, constatou-se que não houve diferenças (p<0,05) entre local e o tamanho do hematoma em relação a curtas e longas distâncias. Houve também diferença no grau da lesão (p-valor = 0,0124), sendo este mais evidente no grau 1 para a distância curta e 2 para longas distâncias.