MORFOLOGIA DA CAVIDADE OROFARÍNGEA E GLÂNDULA DE CHEIRO DO MUÇUÃ (Kinosternon scorpioides scorpioides Linnaeus, 1766) DE VIDA LIVRE
Botão gustativo; Glândula de almíscar; Glândula de muco; Ilha de Marajó; Kinosternidae; micro crista; micro vilosidade; tartaruga da lama.
O muçuã, como é conhecido o Kinosternon scorpioides scorpioides, é o único representante da família Kinosternidae no Brasil. É um quelônio com tamanho médio de 15 cm de comprimento da carapaça quando adulto. Sua carapaça possui três quilhas longitudinais e o plastrão é articulado, podendo mover-se e fechar total ou parcialmente a carapaça. De hábito semiaquático, sua dieta em vida livre inclui uma ampla variedade de alimentos de origem vegetal e animal, sendo considerado onívoro ou generalista oportunista. Entretanto, para resistir à seca do verão, quando as condições climáticas e alimentares são desfavoráveis, o muçuã permanece enterrado sob o solo, em estado de baixo metabolismo e consumindo reservas energéticas, num mecanismo conhecido como estivação. Outra peculiaridade do muçuã é secretar uma substância que exala um odor forte e característico, produzida por glândulas de cheiro, que tem por finalidade repelir predadores, mas também pode ser usado como atrativo sexual. Apesar do mau cheiro que exala, a espécie é apreciada como iguaria na culinária da região norte do Brasil, onde a exploração desordenada tem causado declínio substancial nas populações naturais. O presente estudo objetivou descrever os aspectos morfológicos da cavidade orofaríngea e da glândula de cheiro do muçuã. Os animais foram coletados em áreas de ocorrência natural, na Mesorregião do Marajó no estado do Pará/Brasil. A microscopia de luz revelou que quase todo o epitélio de revestimento da cavidade orofaríngea é do tipo estratificado mucoso não queratinizado, contendo muitas células mucosas e numerosas glândulas de muco ao longo de todo epitélio lingual, palato e assoalho da cavidade oral, com exceção da região próxima a ranfoteca, que é constituída por tecido epitelial estratificado pavimentoso queratinizado contendo diversos botões gustativos. Em microscopia eletrônica de varredura verificou-se que todo o epitélio da cavidade orofaríngea apresentou poros, sulcos, micro vilosidades e micro cristas. Foram encontradas em todos os espécimes analisados, independente de sexo, quatro glândulas de cheiro, sendo dois pares axilares e dois inguinais, estruturalmente semelhantes entre si. Cada glândula consistiu em um lóbulo único secretor holócrino com secreção contendo células formadas por dois tipos de vacúolos secretórios. Os do tipo 1 coravam de vermelho, eram os de maior tamanho e os mais frequentes, além de serem positivos para o Ácido Periódico de Schiff (PAS), sugerindo serem um complexo glicoproteico e os do tipo 2, translúcidos, de menor tamanho e menor número e negativos para o PAS, sugerindo uma constituição lipídica. A secreção produzida era conduzida por um ducto único através de canal ósseo existente na ponte que liga a carapaça ao plastrão e excretada por um poro exterior localizado no respectivo escudo que dá nome a glândula. Embora a abertura para criação em cativeiro proporcionada pela legislação seja extremamente importante, é necessário o desenvolvimento de pesquisas que preencham as lacunas do conhecimento sobre a espécie e que viabilizem sua criação para produção.