Paradoxos da assistência veterinária à fauna silvestre em uma situação do urbano amazônico: conflitos entre normativos formais e costumes locais e a consequente inviabilização do atendimento.
Caça de animais silvestres, desenvolvimento sustentável, legislação ambiental, política ambiental, povos tradicionais
A pesquisa enfoca a manutenção de formas tradicionais de utilização de animais silvestres em zonas urbanas amazônicas, tratando do particular caso empírico do Município de Castanhal. Pretende mapear os circuitos de utilização da fauna e as interações desses elos informais com as instituições formais operantes no local (órgãos de fiscalização ambiental, corpo de bombeiros, hospital veterinário de universidade federal). A inserção no caso enfocado se dá pela vinculação da equipe de pesquisa ao quadro de colaboradores da ala de animais silvestres do Hospital
Veterinário da UFPA de Castanhal. Será realizada observação participante no âmbito desta instituição, para que se possa conhecer como seus colaboradores se relacionam com os elos informais da população que preservam o costume de mobilizar a fauna silvestre, assim como para reconhecer outras formas de relação dessas pessoas com outras instituições formais da cidade. Em prosseguimento, serão triados os prontuários relativos aos atendimentos a animais silvestres realizados entre os anos de 2013-2016, para seleção daqueles que se mostrem mais promissores à elucidação dos circuitos de utilização tradicional da fauna no contexto urbano. Devido à natureza qualitativa do estudo, não se pode definir à priori a quantidade exata de prontuários selecionados. Os sujeitos responsáveis pelas informações constantes nos prontuários (colaboradores do hospital, bombeiros, agentes de fiscalização, populares em geral) serão procurados, para participação voluntária em entrevistas, as quais deverão permitir reconstruir as situações mais típicas de interação sociedade x fauna no município, bem como mapear as diferentes racionalidades e visões de mundo (remetidas a específicas trajetórias e histórias de vida) que determinam as condutas dos distintos atores em jogo. A análise dos dados seguirá os métodos de análise de conteúdo e modelização sistêmica, para definição dos traços mais expressivos do fenômeno enfocado, e de tipologias, para descrição da diversidade de situações sociais implicadas no caso empírico tratado (e o que permitiria, aliás, extrapolar os dados para outros contextos urbanos amazônicos). Pretende-se, enfim, demonstrar, a partir do cruzamento dos dados das entrevistas e da observação participante, que existe uma colisão entre o arraigado hábito de mobilização da fauna silvestre em contexto urbano amazônico e os normativos da legislação, que causam incompreensões entre os técnicos responsáveis pelo atendimento institucional aos animais silvestres e a população local. Argumenta-se que tais incompreensões poderiam fazer com que os habitantes locais passassem a evitar recorrer, em casos futuros, às instituições formais para tratamento de animais silvestres adoentados, com medo de serem qualificados como delinquentes, o que, em última instância, poderia significar uma situação problemática para a conservação da biodiversidade.