Vigilância epidemiológica molecular de Plasmodium spp. na interface homem - vida selvagem na Amazônia peruana
Malária; OneHealth; Zoonoses; Hotspot; Hospedadores silvestres; Eco-epidemiologia; Amazônia; Comunidades Indígenas; Caça de subsistência.
As doenças zoonóticas são um grande problema de saúde pública global, com impactos sociais e econômicos que vão além da saúde, muitas vezes afetando populações "negligenciadas". A vigilância e o monitoramento de doenças zoonóticas através de estudos que consideram amplamente diversas interfaces (incluindo humanos, vetores, roedores domésticos e animais selvagens domésticos e de vida livre) é um desafio devido à amplitude, mas uma grande contribuição para o conhecimento da saúde sob um conceito de “One Health”. As populações indígenas são os segmentos da sociedade mais afetados no Peru, com diferenças abismais nos indicadores de saúde em comparação com a média nacional, tais como taxas de mortalidade materna, desnutrição e altas taxas de morbidade por causas evitáveis. Fatores limitantes no acesso aos serviços de saúde devido a barreiras geográficas, econômicas e culturais são problemas que afetam a maioria dessas populações negligenciadas. A Amazônia é caracterizada como um hotspot global de biodiversidade, dentro do qual encontramos múltiplas espécies de vetores e vida selvagem livre que atuam como reservatórios para uma ampla gama de patógenos zoonóticos. A malária causada por Plasmodium spp. é considerada uma recente zoonose devido à transferência cruzada do parasita entre humanos e primatas neotropicais. Entretanto, ainda há lacunas de informação sobre a doença em diferentes interfaces (animais selvagens e domésticos, vetores e humanos). Portanto, neste estudo propomos uma estratégia alternativa para identificação e vigilância de Plasmodium spp. desenvolvendo uma estrutura epidemiológica que inclui as interfaces da vida selvagem e animais domésticos, vetores e seres humanos em uma área remota da Amazônia peruana utilizando técnicas moleculares. Foram analisadas amostras de animais selvagens de vida livre coletadas através da colaboração de caçadores de subsistência e outras amostras biológicas de humanos e roedores domésticos de uma comunidade indígena Yagua localizada na bacia do rio Yavari-Mirin, na fronteira entre Peru e Brasil, a aproximadamente 150 km dos centros urbanos e onde não há atividade agrícola. Quanto aos resultados humanos, de acordo com o consenso molecular, pelo menos 38,2% (50/131) das amostras foram encontradas como Plasmodium spp. 98,0% das amostras consideradas positivas foram identificadas como P. vivax pela PCR aninhada Cox3 (Cox3 nPCR) e a análise da seqüência do gene Cytb. Foi detectada a co-infecção de P. vivax e P. malariae/brasillianum em um caso e apenas uma infecção por P. falciparum por Cox3 nPCR. Embora o diagnóstico comercial PCR em tempo real (qPCR Viasure) tenha sido o menos demorado das três técnicas moleculares investigadas, ele não conseguiu detectar três possíveis infecções por P. vivax. Além disso, serão incluídos os fatores de risco social e cultural associados, coletados através de questionários à população local. Os estudos eco-epidemiológicos nos permitirão conhecer a relação entre agentes patogênicos, características climáticas, fatores biológicos e ecológicos da fauna silvestre, esta informação implementará estratégias de diagnóstico adequadas ao contexto tropical e facilitará o controle de doenças infecciosas.