AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ÓSSEO GESTACIONAL DE CUTIA (Dasyprocta fuliginosa) POR MEIO DA ULTRASSONOGRAFIA
Roedor histricomorfo; sistema esquelético; crescimento fetal; cursorial.
A cutia é um dos roedores mais conhecidos que habita as florestas neotropicais, sendo encontradas no sul do México, América Central e América do Sul. Estudos sobre o desenvolvimento embriológico e fetal das espécies fornecem informações que auxiliam na compreensão de estratégias adaptativas dos neonatos. Desse modo, buscou-se descrever o desenvolvimento ósseo durante a fase gestacional da cutia (Dasyprocta fuliginosa), comparando-o com outras espécies precociais e altriciais e relacionando com as estratégias adaptativas da espécie. Foram analisados 33 embriões/fetos, obtidos por colaboração voluntária de caçadores locais de subsistência que residem na Amazônia brasileira e peruana. As mensurações das porções mineralizadas dos esqueletos axial e apendicular foram realizadas por meio da ultrassonografia, utilizando transdutor eletrônico linear e multifrequencial de 10 -18MHz em Modo-B. Os dados foram avaliados por meio de regressões logísticas lineares e não lineares utilizando o software CurveExpert Professional 2.7, e regressões logísticas para estimar a probabilidade de ocorrência de mineralização óssea por meio do software Statistica 8.0. A fórmula da idade fetal foi fortemente associada ao comprimento dorsal total (TDL). A ordem cronológica de ocorrência da mineralização em relação ao TDL foi: esqueleto axial (crânio, corpos vertebrais, costelas, TDL = 8,2 cm); clavícula, escápula, úmero, rádio, ulna, ílio, ísquio, fêmur, tíbia e fíbula (TDL = 8,2 cm); metacarpos, metatarsos e púbis (TDL = 9 cm); falanges e calcâneo (TDL = 13,2 cm); carpo (TDL=15,10 cm) e fileira distal do tarso (TDL = 19,6 cm). A patela não foi observada. Os núcleos secundários de ossificação que apresentaram os primeiros sinais de mineralização foram: epífise distal do rádio, epífise distal do fêmur, e epífise proximal e distal da tíbia (TDL = 13,2 cm). Fetos avançados (TDL≥ 21,5 cm, 93,5% período gestacional) apresentaram mineralização em todos os núcleos primários, e na maioria dos núcleos secundários de ossificação. Observou-se que os neonatos da cutia possuem um esqueleto bem desenvolvido, que permite sua locomoção logo ao nascer, conferindo-lhes certa independência no pós-natal, o que justifica sua precocialidade. Os resultados obtidos podem contribuir para o monitoramento do desenvolvimento ósseo na espécie em questão, e em outras espécies silvestres, auxiliando no entendimento da história de vida desses animais, e servindo como parâmetros para comparações entre mamíferos precoces e altriciais.