Hiperdominância em paisagens agrícolas: uma abordagem de ecologia de comunidades e de paisagem
Amazônia; Biodiversidade; Mosaicos Agrícolas; Conservação; Estado do Pará
O papel funcional das espécies mais abundantes em comunidades vegetais tem sido um dos pontos principais em ecologia. Na Amazônia, a importância das espécies mais abundantes entrou em evidência a partir da identificação de um grupo de espécies arbóreas dominantes na Amazônia ocidental, que intitulou de oligarquia de espécies. Mais recentemente, foi encontrado padrão similar para toda a Amazônia, chamando de espécies hiperdominantes as que detêm 50% de todos os indivíduos arbóreos (HA). Também foram definidas quais espécies detêm 50% da biomassa arbórea da Amazônia, as hiperdominantes em biomassa (HB). Buscando compreender o comportamento das espécies hiperdominantes em áreas sob influência antrópica, essa tese teve como objetivos: (1) Compreender como os padrões de HA e HB descritos para florestas primárias diferem dos encontrados em diferentes tipos de vegetação em paisagens antropizadas, (2) avaliar o efeito das métricas de uma paisagem antropizada em diferentes escalas sobre a estrutura e composição florística em diferentes estratos da vegetação e (3) descrever os padrões de hiperdominância de espécies vegetais em diferentes paisagens agrícolas na Amazônia oriental, verificando como o grau de conservação das áreas pode afetar as relações de dominância e hiperdominância das comunidades vegetais. Foram analisadas 07 áreas distribuídas na Amazônia oriental, em cada área, foi conduzido inventário do estrato inferior (indivíduos com altura ≤ 2m), médio (indivíduos com altura < 2 m até 10 de DAP) e superior (indivíduos com DAP ≥ 10 cm), em 9 propriedades agrícolas. Nelas, foram analisadas de 03 a 05 tipos de cobertura: pasto, roça, floresta secundária (inicial e avançada) e floresta remanescente. O longo histórico de antropização na região do Guamá tem causado mudanças drásticas nas comunidades vegetais, reduzindo os estoques de biomassa aérea e afetando os padrões de HA e HB. Quão mais intensa é a perturbação antrópica, mais forte é o “efeito de hiperdominância”, i.e. menos espécies detêm 50% dos indivíduos. No Guamá, quase totalidade das espécies HA e HB foram classificadas como pioneiras, não foi encontrado efeito da densidade da madeira sobre os padrões de abundância ou biomassa aérea e o tamanho máximo dos indivíduos das espécies tiveram efeito sobre a biomassa aérea. No Oiapoque, as métricas proporção de área não-florestada e densidade de fragmentos influenciaram os três estratos da vegetação em todas as escalas, refletindo o forte efeito da perda de hábitat e fragmentação sobre a vegetação. A proporção de espécies dominantes pioneiras apresentou maiores valores associados aos pastos e às florestas secundárias. Métricas ligadas ao processo de dispersão têm influência sobre o estrato inferior até 800 m e as árvores adultas (estrato superior) só parecem ser influenciadas pela configuração da paisagem a partir dos 2000m. Foram encontradas 141 espécies hiperabundantes para as áreas antropizadas da Amazônia oriental, sendo 38% consideradas pioneiras. Poucas espécies hiperdominantes foram exclusivas de uma única área. O efeito da conservação das áreas, expresso pelo percentual de cobertura florestal, não afetou os padrões de hiperdominância, nem a proporção de espécies florestais/pioneiras hiperdominantes em cada área.