SUCESSÃO FAMILIAR RURAL NA TRANSAMAZÔNICA: O CASO DA CACAUICULTURA
Agricultura familiar, Análise socioeconômica, Juventude rural, Amazônia
A sucessão rural é fundamental para a continuidade e a reprodução social da agricultura familiar. Mais do que a simples transferência de patrimônio envolve a transmissão de propriedade e gestão entre gerações, preservação dos modos de vida, transmissão do conhecimento e manutenção da posse das terras. No entanto, esse processo enfrenta desafios diversos, como a migração de jovens, ausência de políticas públicas específicas e dificuldades de comunicação entre gerações e transformação da identidade e vínculos com o meio rural. Este estudo analisa as percepções dos produtores de cacau sobre os processos de sucessão familiar na região da Transamazônica paraense, onde a cacauicultura tem destaque na economia local e nacional, investigando as dinâmicas socioprodutivas que influenciam a permanência ou saída dos jovens do campo. A pesquisa foi realizada com 370 produtores nos municípios de Altamira, Brasil Novo, Medicilândia, Uruará e Senador José Porfírio, pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), no âmbito do projeto Cadeias produtivas sustentáveis no estado do Pará: informações de qualidade para uma economia inclusiva e de baixo carbono, financiado pela Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD). Os resultados revelam que a sucessão rural ocorre de forma não planejada, em um cenário marcado pelo envelhecimento dos produtores, pelo fracionamento das propriedades e por inseguranças quanto à capacidade dos filhos em assumir a gestão das unidades produtivas. A participação da juventude nas decisões estratégicas das propriedades ainda é limitada, e as mulheres seguem sendo pouco reconhecidas como sucessoras legítimas. Apesar disso, identificou-se que a cacauicultura tem se mostrado atrativa para a juventude, e um importante vetor de fixação destes no campo, permitindo a alguns deles iniciar suas próprias lavouras e construir trajetórias produtivas autônomas. O estudo aponta a necessidade de políticas públicas integradas voltadas à juventude e à igualdade de gênero, que contemplem capacitação técnica, acesso ao crédito, assistência técnica especializada e estímulo à valorização da identidade rural como forma de assegurar a continuidade da agricultura familiar na região.