Fracionamento geoquímico e bioacessibilidade de elementos potencialmente tóxicos em área de mineração artesanal de ouro na Amazônia
Metais pesados, risco a saúde, disponibilidade, risco ambiental
A mineração artesanal de ouro é praticada na Amazônia desde a década de 1950. Apesar da contribuição com a economia local, esta atividade causa danos aos ecossistemas e a saúde humana, principalmente devido a contaminação por elementos potencialmente tóxicos (EPTs). Na mina de ouro de Serra Pelada, Amazônia oriental, a mineração causou a contaminação da área de influência da mina por uma série de EPTs há vários anos, mesmo assim são escassos os estudos sobre a mobilidade, biodisponibilidade e bioacessibilidade destes elementos. O objetivo foi conhecer as formas químicas (biodisponível e potencialmente móvel) de bário (Ba), cromo (Cr), cobre (Cu), níquel (Ni), chumbo (Pb) e zinco (Zn) a partir do fracionamento geoquímico e bioacessibilidade oral em áreas de influência da mina artesanal de ouro de Serra Pelada, Pará, Amazônia. As coletas foram realizadas em áreas de depósito de rejeito de mineração (10), residências (10), agricultura (5) e floresta (2), totalizando 27 amostras. O fracionamento geoquímico foi obtido pelo protocolo BCR-701, de extração sequencial, enquanto a bioacessibilidade oral nas fases gástrica e intestinal foi determinada pelo método SBET (Simple Bioaccessibility Extraction Test). Os resultados foram quantificados por espectroscopia de absorção atômica de chama e submetidos a análise estatística descritiva. Todos os metais predominaram na forma residual. O Ba demonstrou altas concentrações nas frações de maior mobilidade (trocável + redutível + oxidável), correspondendo a 1380, 397, 358 e 166 mg kg-1 nas áreas de mineração, residencial, agrícola e florestal, respectivamente. Considerando as frações de maior reatividade, os elementos seguem a ordem Ba > Cu > Ni > Cr > Pb > Zn. O Ba também apresentou a maior bioacessibilidade oral, com concentrações bioacessíveis na fase gástrica de 490 mg kg-1 (área agrícola) e 398 mg kg-1 na fase intestinal (área residencial). Na fase gástrica, foi encontrada a ordem Ba > Pb > Ni > Zn > Cr > Cu, enquanto na fase intestinal a sequência foi Ba > Ni > Cu > Cr > Pb > Zn. Existe alto risco atual a saúde humana e ao ambiente por Ba na zona de influência do garimpo de Serra Pelada, com altas concentrações em formas mais móveis e elevada bioacessibilidade. Cr, Cu, Pb, Ni e Zn demonstram baixo risco atual, mas merecem atenção por conta das altas concentrações que podem ser mobilizadas para formas mais móveis nas condições ambientais amazônicas e em função de atividades antropogênicas. Os resultados são importantes para a tomada de decisão, por parte dos órgãos ambientais, quanto ao controle e remediação dos solos contaminados em Serra Pelada.