MINERAÇÃO ARTESANAL DE OURO NA AMAZÔNIA: CRONOSSEQUÊNCIA E CONTAMINAÇÃO POR MERCÚRIO
mercúrio no solo; mineração de repasse; risco ambiental e à saúde.
A mineração artesanal em pequena escala (MAPE), comumente denominada de garimpo, ocupa aproximadamente 263 mil hectares no Brasil. Na Amazônia, cerca de 85,4% dessas atividades são ilegais e informais. Entre os métodos empregados, destaca-se o uso de mercúrio (Hg) na amalgamação do ouro (Au), um processo que eleva os riscos ambientais e à saúde humana. Além da extração convencional, muitos garimpos na Amazônia passam por um processo de reexploração denominado mineração de repasse, no qual rejeitos anteriormente explorados são revisitados, promovendo um enriquecimento contínuo de Hg na mesma área ao longo do tempo. O objetivo do estudo foi avaliar as concentrações, os riscos à saúde humana e ambiental e o fracionamento químico do Hg em resíduos de garimpos de ouro e solos de florestas no município de São Félix do Xingu, Pará. Para isso, foram coletadas amostras em garimpos ativos e desativados com diferentes idades dos resíduos: G1 (ativo), G2 (inativo há 3 meses), G3 (inativo há 1 ano), G4 (inativo há 2 anos), G5 (inativo há 8 anos) e G6 (inativo há 20 anos), além de áreas de florestas nativa. Foram realizadas análises de determinação das concentrações pseudototais de Hg, Fe e Al por meio de digestão ácida e detecção via MP-AES com gerador de hidretos. Também foram calculados os índices de enriquecimento, geoacumulação, risco ecológico potencial e risco à saúde humana. O fracionamento químico do Hg foi realizado utilizando o protocolo BCR adaptado de extração sequencial. Os resultados foram submetidos a análise estatística descritiva e análise de componentes principais (PCA) para avaliar as relações entre os elementos e as diferentes áreas
amostradas. Os resultados demonstraram que tanto as áreas de florestas quanto os garimpos, independentemente do tempo de inatividade, apresentaram concentrações elevadas de Hg, variando entre 4,5 mg kg-1 e 64,8 mg kg-1 . Observou-se que, nas áreas de garimpo, o Hg apresentou forte correlação com Fe e Al, enquanto nas áreas de floresta a relação foi mais evidente com pH, MO e CTC. Os índices de poluição indicaram níveis alarmantes de contaminação nas áreas de estudo, confirmando um alto risco ecológico potencial. Além disso, os índices de risco à saúde humana apontaram valores superiores a 1 para crianças e adultos, indicando risco significativo de exposição. O fracionamento químico revelou que a fração residual foi predominante na maioria das áreas, especialmente em G6. Entretanto, frações mais móveis do Hg (solúvel em água e redutível) representaram entre 11,8% e 33,8% do total, sugerindo alta mobilidade e risco de dispersão no meio ambiente. Diante disso, o Hg presente nos resíduos de garimpos e nas áreas de florestas apresentam elevadas concentrações, potencial de contaminação ambiental e riscos à saúde humana. A persistência desse contaminante em frações móveis reforça a necessidade de monitoramento contínuo e implementação de estratégias para mitigação dos impactos ambientais associados à mineração artesanal na Amazônia.